terça-feira, 20 de outubro de 2009

Das palavras às mudanças.


Glamour. Boemia. Intelectualidade. Esses são os significados que muitos atrelam à práxis jornalística. Ousam perguntar freqüentemente ao estudante de comunicação quando alcançará a vitória de pronunciar o famoso “Boa noite” às famílias de todo o país; substituir o William Bonner e a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional é, com veemência, alcançar o ápice da carreira. Os veículos de maior influência no país parecem marcar a população por detalhes que fogem da real função do jornalismo.

Alegando a falta de tempo do homem contemporâneo e o bombardeio de informações que já o atingem diariamente, editores abrandam no teor das notícias e maneiram nas críticas. Afinal, o consumidor não conseguiria ter uma boa assimilação de um conteúdo mais denso ao final de uma longa jornada de trabalho e de horas num trânsito infernal. A função social do jornalismo é menosprezada em prol de lucros grandiosos e do poder que está atrelado à retenção de conhecimento. Entretenimento acaba sendo sempre a carta na manga daqueles que veiculam informação.

Os meios de comunicação se vêem num dilema em que é preciso optar ou por quantidade ou por teor. Com a globalização, potencializada pela difusão maciça da internet, há muito que ser noticiado em poucos cadernos ou minutos. Acaba-se por oferecer um amontoado de matérias (ou notas, melhor dizendo) desconexas entre si, com baixa qualidade de apuração e fundamentação. Uma visão genérica sobre tudo parece se alicerçar no conhecimento aprofundado de nada.

Formador de opinião. Essa postura deveria ser levada mais a sério pelos profissionais de comunicação social. O comprometimento com a qualidade da informação, que deveria ser inerente a qualquer jornalista, é o primeiro passo para a construção de uma sociedade mais crítica e racional. Contudo, parece confortável, e não apavorante, ter uma audiência cada vez menos exigente.

Num país como o Brasil, onde a educação ainda deixa a desejar, deveria ser uma das funções da mídia esclarecer questões fundamentais àqueles que não têm acesso ao aprendizado dos conteúdos necessários à vida em sociedade. A política, por exemplo, é detestada pela maioria da população brasileira pela ausência de uma disseminação de conhecimentos sobre a área. E o que fazem os meios de comunicação acerca do tema? Confundem ainda mais a cabeça do povo, promovendo debates vazios e sendo movidos pelos interesses dos empresários que detêm informação.

Jornal não deveria funcionar como empresa. Esse mergulho profundo nas águas do capitalismo faz com que a lógica de mercado seja o principal regulador de conteúdos. Informação não é produto, deveria ser cada vez mais democratizada, não comercializada. Vê-se novamente um jornalismo que vive de agendamento e superficialismo.

Estudantes de comunicação, ao ingressarem na universidade, aprendem todos os conceitos de mídia, ética, o papel do jornalismo na sociedade, técnicas de produção de notícia, de apuração. Cria-se um profissional quase ideal para o exercício da profissão. Ao ingressarem nas redações, entretanto, focas parecem vender ideologias aos donos de jornal - e continuam a bater palmas para tudo. As reais funções do jornalismo – de informar, elucidar e até educar – são deixadas de lado pelos próprios jornalistas que acabam por sucumbir a esse sistema capitalista difusor de informação.

Alavanca social. Essa é a expressão que representa de fato a prática jornalística. É o desejo de proporcionar uma evolução na maneira de pensar da sociedade que leva o profissional de comunicação a produzir informação e conhecimento de qualidade. O compromisso com a ética e com a verdade deve fazer parte da prática do jornalista, que torna, diariamente, as informações relevantes comuns à sociedade. O jornalismo é a arte de transformar fatos em palavras, e de permitir que as pessoas transformem palavras em mudanças.