sexta-feira, 27 de abril de 2012

hoje é sexta. e tanto faz. como todos os outros dias que. há tempos. tanto fazem. começam. terminam. e. no todo. tanto faz. se fazem ou não algum sentido.

terça-feira, 3 de abril de 2012

re-cita, vai.

Essa mania nasceu numa época em que ainda mal sabíamos quem éramos. Só nos sentíamos ligados, pulsantes, um ao lado do outro - com cócegas espalhadas por pernas, pescoço e barriga. Deitados na cama, passávamos madrugadas acordados, rindo, conversando sobre coisas que eu nem lembro mais o que. Embolados nos lençóis - com a meia-luz do abajur clareando de leve o quarto bagunçado -, cantávamos amores sem vergonha. Em um desses encontros de sábado, me disseste com convicção; a mão enfiada nos meus cabelos assanhados:

- Eu sei recitar poesia.

Olhei com cara de quem nem leva fé em talento de conquistador barato. Mas foste emendando um trecho no outro, rabo de estrofe em verso de introdução e, aos poucos, encenando poesias baixinho. A maioria de amor, apaixonadas. E nem para mim decoradas. Mas foi tom de voz, sotaque, ritmo lento e timbre adoçado. E aí, como quem se sente musa inspiradora, me derreti entre o teu braço e tuas costelas, que tanto me serviram de travesseiro. 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ê vida vida amor brincadeira à vera

Com malabares e bolinhas se embaralhando habilidosos, amigos se divertiam em contos circenses. As risadas e o domingo faziam o treino descontraído, mas concentrado, parecer com brincadeira.

Uma menina bonita, dos cabelos curtinhos e blusa florida, levava no rosto um sorriso de mostrar todos os dentes. Os cabelos se balançavam com a brisa leve que refrescava o parque vez por outra, e o shortinho branco deixava à mostra um hematoma simpático no joelho. Dominava os pinos com habilidade e carisma desconcertantes, de deixar os olhos fixos e a boca um pouco aberta, enquanto os lançava alto no céu. 

Outra garota, que não brincava de circo, passou perto dela, sem chamar atenção; só para se aproximar. Fazendo os malabares se desencontrarem do corpo em um gesto de pausa, a de blusa florida esticou ainda mais o sorriso. E roubou-lhe um beijo bonito, de uma doçura que só um encontro bem grato pode oferecer. Por poucos segundos mantiveram, ali, em meio ao verde do parque, os lábios colados uns aos outros. 

Ao redor, casais continuaram a caminhar de mãos dadas, crianças cresciam seus castelos de areia, senhorinhas tricotavam fofocas nos bancos de madeira pintados de azul. Uma mulher gorda, de roupas negras, engessou uma cara de desgosto numa boca torta e sobrancelhas desalinhadas. E, no breve instante de um beijo, o estranhamento soaria como ofensa a quem, num fim de tarde, aproveitava a simplicidade de amar.



só que os sorrisos continuaram pintando lábios, agora molhados, tal qual tinta em rosto de palhaço, que exala alegria permanente. com os olhos fechados, elas nem puderam ver que, em algum lugar, havia alguém carregando carrancas sobre a face