quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Do lado de dentro

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Desde menina me encantava por fotografias. De um jeito diferente, admito, mas adorava. Mil poses de bailarina, princesa, cantora, artista... Sentia como se no momento do "click", ao estar coberta de flashes e atenções, fosse o meu momento de brilhar.

Com o passar do tempo, ser o centro das atenções já não é interessante. E em cada fase da vida uma nova forma de ver essa arte nos domina. Nesse semestre, auge da juventude, fui apresentada aos bastidores da Fotografia. Sede de experimentação e intensa inspiração, acabei por me encantar pela arte de fotografar. Não por sua prepotência em conseguir capturar um momento único no mundo, completamente inigualável. Mas por perceber a beleza de sua alma, sua infinita subjetividade, mesmo ao parecer tão objetiva.

Gosto da sua capacidade infinita de informar, nunca apenas o óbvio. Gosto da pluralidade de significados, opiniões e detalhes a ela atribuídos. Nunca é percebida da mesma maneira por sujeitos diferentes, nunca a mesma ao mesmo sujeito em épocas diferentes.

Plural, Horizontal, Multilateral. O significado da fotografia surge dentro de cada um, numa mistura dos sujeitos que a constituem: o espectador, o fotógrafo e o fotografado. Democrática e repleta de liberdade de expressão, a imagem fotográfica se permite interpretações infinitas sem preconceito. Admite diversas versões por entender que não se apresenta da mesma forma a todos os olhos.

Tenho tentado visitar lugares interessantes, que rendem boas fotos, só para praticar. Me sinto livre, inspirada e empolgada fotografando como há tempos não me ousava sentir. Sinto como se estivesse dialogando com a vida ao meu redor, me expressando quase sem pudor. Simplesmente espontânea.

Espero que a arte continue a me preencher, como tem feito agora. Continue me inspirando a pensar outras formas de arte, despertando em mim a vontade de tentar coisas diferentes e de fazer vir à luz o que há, muitas vezes obscuro, dentro de mim.

PS: Essa foto foi tirada na feira do Mercado São José - Centro do Recife e pertence a um trabalho dedicado a Retratos que realizei no final deste ano.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Infinitude.

Nada. Palavra cujo sentido eu desconheço. Ainda que haja quem seja capaz de enxergar seu significado, a mim ela é estranha. Palavra fria, que se aproxima da morte antes de ser a prévia do nascimento. Elimina todas as possibilidades de vida, de sonho, de criação. É o vazio. E nele é impossível acreditar.

Não consigo conceber a ideia de um nascimento abrupto, sem uma existência anterior intrínseca. Sou incapaz de compreender a completa ausência de passado e de visualizar o momento em que o tudo era o nada e, de repente, passou a existir. Big Bang? Gênesis? Hipóteses da instantaneidade. Uma explosão. Um passe de mágica.

É como se tudo fosse contínuo, sem sequência linear, com início, meio e fim. Embaralhado de acontecimentos em que o importante não é o surgimento das coisas, mas o impacto que vêm a causar. Brincadeira do tempo, que parece caminhar sempre ao mesmo ritmo, enquanto a vida acontece em turbilhão ou se arrasta preguiçosa.

Tendendo ao infinito. Estado de movimento em que tudo deveria ser imaginado. Mas não pensemos na linha infinita em que pensam os matemáticos, com uma seta apontada pra frente e outra para trás. Mania das Exatas. Não usemos o passado como fonte de lembrança e o futuro como objetivo. Pensemos no eterno, onde o tempo não é vilão.

O sempre é mais belo que o agora. As coisas não existem a partir do momento que surgem. Tudo existe antes de existir; entender o nascimento pelo viés do mundo material é ignorar e se desfazer da criatividade. O pensar é o verdadeiro gérmen da existência. E tudo pode vir a se materializar ou não. Talvez nunca venha a tanto. Mas nem por isso deixou de existir.

Acredito na inexistência da Criação. Não por ser desprovida de sentido, mas por representar um instante por demais efêmero, insignificante diante da grandiosidade do existir. Elimina o que antes já havia, admite a existência de um nada anterior. Imaginar a infinitude das coisas permite que enxerguemos além do óbvio, do pontual. Permite focar no ser, na essência. Sob esse olhar, a necessidade de tentar encontrar um ponto de partida deixa de existir. O nada não existe.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Das palavras às mudanças.


Glamour. Boemia. Intelectualidade. Esses são os significados que muitos atrelam à práxis jornalística. Ousam perguntar freqüentemente ao estudante de comunicação quando alcançará a vitória de pronunciar o famoso “Boa noite” às famílias de todo o país; substituir o William Bonner e a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional é, com veemência, alcançar o ápice da carreira. Os veículos de maior influência no país parecem marcar a população por detalhes que fogem da real função do jornalismo.

Alegando a falta de tempo do homem contemporâneo e o bombardeio de informações que já o atingem diariamente, editores abrandam no teor das notícias e maneiram nas críticas. Afinal, o consumidor não conseguiria ter uma boa assimilação de um conteúdo mais denso ao final de uma longa jornada de trabalho e de horas num trânsito infernal. A função social do jornalismo é menosprezada em prol de lucros grandiosos e do poder que está atrelado à retenção de conhecimento. Entretenimento acaba sendo sempre a carta na manga daqueles que veiculam informação.

Os meios de comunicação se vêem num dilema em que é preciso optar ou por quantidade ou por teor. Com a globalização, potencializada pela difusão maciça da internet, há muito que ser noticiado em poucos cadernos ou minutos. Acaba-se por oferecer um amontoado de matérias (ou notas, melhor dizendo) desconexas entre si, com baixa qualidade de apuração e fundamentação. Uma visão genérica sobre tudo parece se alicerçar no conhecimento aprofundado de nada.

Formador de opinião. Essa postura deveria ser levada mais a sério pelos profissionais de comunicação social. O comprometimento com a qualidade da informação, que deveria ser inerente a qualquer jornalista, é o primeiro passo para a construção de uma sociedade mais crítica e racional. Contudo, parece confortável, e não apavorante, ter uma audiência cada vez menos exigente.

Num país como o Brasil, onde a educação ainda deixa a desejar, deveria ser uma das funções da mídia esclarecer questões fundamentais àqueles que não têm acesso ao aprendizado dos conteúdos necessários à vida em sociedade. A política, por exemplo, é detestada pela maioria da população brasileira pela ausência de uma disseminação de conhecimentos sobre a área. E o que fazem os meios de comunicação acerca do tema? Confundem ainda mais a cabeça do povo, promovendo debates vazios e sendo movidos pelos interesses dos empresários que detêm informação.

Jornal não deveria funcionar como empresa. Esse mergulho profundo nas águas do capitalismo faz com que a lógica de mercado seja o principal regulador de conteúdos. Informação não é produto, deveria ser cada vez mais democratizada, não comercializada. Vê-se novamente um jornalismo que vive de agendamento e superficialismo.

Estudantes de comunicação, ao ingressarem na universidade, aprendem todos os conceitos de mídia, ética, o papel do jornalismo na sociedade, técnicas de produção de notícia, de apuração. Cria-se um profissional quase ideal para o exercício da profissão. Ao ingressarem nas redações, entretanto, focas parecem vender ideologias aos donos de jornal - e continuam a bater palmas para tudo. As reais funções do jornalismo – de informar, elucidar e até educar – são deixadas de lado pelos próprios jornalistas que acabam por sucumbir a esse sistema capitalista difusor de informação.

Alavanca social. Essa é a expressão que representa de fato a prática jornalística. É o desejo de proporcionar uma evolução na maneira de pensar da sociedade que leva o profissional de comunicação a produzir informação e conhecimento de qualidade. O compromisso com a ética e com a verdade deve fazer parte da prática do jornalista, que torna, diariamente, as informações relevantes comuns à sociedade. O jornalismo é a arte de transformar fatos em palavras, e de permitir que as pessoas transformem palavras em mudanças.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O bombardeio de futilidades na Terra do Consumo.

Consumo. Esse é o termo mais adequado para explicar a mudança de papéis da mídia. A informação, agora tratada como produto, só é fornecida pelos grandes meios de comunicação, se a venda em atacado for garantida. O leitor é bombardeado com bastante diversão e futilidade em detrimento do conhecimento e da denúncia social. Se quem consome não exige qualidade, não é o fornecedor quem irá se queixar do comodismo.

O compromisso com a verdade e com a crítica fundamentada perdeu-se em meio à enchente de vulgaridades. É papel da mídia funcionar como serviço público à população; denunciar as falhas da estrutura social vigente é um passo primordial para que mudanças sejam alcançadas. Informações vazias de conteúdo, no entanto, prejudicam diretamente o aprimoramento do olhar crítico do cidadão.

Ao estar rodeado por uma mídia de fácil consumo, o consumidor midiático perde o tempo da reflexão para o montante de informações proveniente da imprensa que é engolida sem precisar mastigar. Os veículos que se comprometem com a verdade e com a propagação de conhecimento perdem espaço, cada vez mais, por não possuírem uma lógica de mercado intrínseca. A arte, o cinema e a música parecem pequenos indefesos perto do glamour das novelas e dos reality shows. Enquanto o cidadão não for estimulado a sentir prazer através do consumo de conhecimento, a mídia continuará em crise, assim como os valores do mundo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

- Perdi o apetite, obrigada.

Tudo o que eu mais queria agora era estar sentada à mesa de um bar extremamente barulhento onde músicas boas estivessem sendo tocadas às alturas. Do tipo Foo Fighters, ou até Strokes que fingem animar, mas no fim das contas não nos fazem sentir merda nenhuma (a não ser uma vontade de correr do caralho).

O bar teria a luz bem baixinha, amarelada, e eu estaria incrivelmente bonita num lugar apinhado de mulheres feias. Daquelas que não conseguem pensar em um assunto sequer para conversar. Que acreditam levar algum jeito para a dança (afinal, sacudir a bunda requer muita habilidade). Que andam em bandos, e sorridentes, e estridentes, mas não param um minuto de procurar - desesperadamente - por algum cara que se interesse por elas.

Eu estaria sentada, sozinha, numa mesa junto à parede, bebendo do melhor uísque que pudessem me servir. Não que eu goste de uísque, mas bebê-lo dá uma sensação de poder que é tudo o que uma mulher precisa sentir numa hora dessas - além do gosto amargo que fica na boca e do ardor que se sente passar pelo nariz, carregado pelo ar cheio de fumaça de cigarro. Isso faria eu me sentir mais viva... Ou mais morta. Não sei.

Haveria belos homens por todos os lados; apenas por fora, claro. Tanta virilidade e auto-confiança são características interessantes de serem observadas - por dentro, entretanto, só se pode ouvir o eco daqueles próprios egos. Carentes. Inseguros. Imaturos. Obviamente, nenhum perguntaria se poderia sentar-se ao meu lado... Talvez por acreditar que eu estivesse esperando por alguém, talvez por ter percebido que eu não estivesse mesmo a fim de conversar com ninguém. Ou, provavelmente, por medo de alcançar a maçã do topo. Venhamos e convenhamos, não há homem idiota o suficiente a ponto de se arriscar a levar um fora, daqueles secos e frios, da mulher para quem todos estão olhando. Os homens temem ser o centro das atenções em momentos de fraqueza. Infelizmente, ou felizmente, são todos covardes. Principalmente os que se escondem por trás da armadura de machão.

Seria, no mínimo, entristecedor ficar ali observando toda aquela gente sem graça se divertindo. Talvez, quando visse todos aqueles amigos reunidos, ou todas aquelas vidas promissoras em busca de uma aventura, perceberia, enfim, que tudo passa. E que no fim das contas, não há um filho da puta sequer que se preocupe com a gente de verdade. Meros "amigos" em busca da diversão momentânea. Consolo.

Brindemos à alegria de hoje, feita pra esquecer o que amanhã virá.

Se tudo desse certo, aprenderia a não esperar demais das pessoas, conseqüentemente, aprenderia a não me decepcionar com tanta freqüência, nem a levar tudo tão a sério. Se eu pudesse, naquele instante, perceber que, na vida, momentos se confundem com redemoinhos, o fato de ter estado sentada ali, sozinha, valeria a pena. A luz fraca e turva do bar me suscitaria, aos poucos, ao mais iluminado entendimento.

Levemente embriagada e entediada, eu gastaria todo o dinheiro que pudesse, mas não comeria. Mulheres desastradas como eu, não ficam nada sexy comendo. Além do que, se um cara, do tipo "único corajoso em um milhão", com um sorriso maravilhoso, se oferecesse para me fazer companhia, eu odiaria estar com um pedaço de carne enfiado entre os dentes.