domingo, 28 de novembro de 2010

O que quer que seja.

Tem gente que gruda, se incrusta no pensar e no ser. Sem trégua. Que remexe o que estava quieto, mexe no que nem se pressupunha existir. Não sossega. Alimenta os tormentos causados por saudade aguda, crônica, que nem tem tempo de vir. E por fome insaciável. Que tem o dom de fazer crescer amor por simplesmente amar.

"Desapossesse-se ou loucomplete-se", alertou Leminski.
O conselho veio tarde.
Ou fingi que não ouvi.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Tom.

Musiquemos a vida. Para entoar palavras de amor, inventar melodias. Afinar sonhos e passos, descompassar risadas, inspirar disritmias. Em meio a breves e mínimas, fazer dos contra-tempos verdadeiras poesias.

domingo, 3 de outubro de 2010

Aos números.

Eu só não queria te sentir tão comedido, como quem mensura o amor que pode dar. O amor que é saudável dar para se manter num lugar seguro e de paixão ao mesmo tempo. Como quem quisesse medir amor por já ter sofrido de amar demais.

Não sei pra que se preservar tanto. Toda a falta de preservação que nos trouxe até aqui não combina com essa falta de entrega. Não quero sentir como se estivéssemos perdidos num campo minado, precisando sondar minuciosamente o chão em que pisamos. Como é de costume fazer com tudo que se desconhece.

Tanta cautela nem sempre (quase nunca) finda em proteção - talvez só retarde o perigo. O andar cauteloso, desconfiado, precavido, corrobora para alimentar um medo não tão sem nexo, mas completamente limitante. Tanto receio nos deixa a andar devagar demais; não quero perder tempo imaginando se vamos dar o passo certo. O risco de dar errado aumenta com a espera.

Nem tudo está sob controle, nem teria graça se estivesse.
Na verdade, quase nada está.

Sem título, rótulo ou explicação.

Descobri que eu já não cabia mais em mim. Transbordava. Minha alma, pequena diante de tanto, sorria e chorava ao mesmo tempo. As gargalhadas tinham gosto de dor. As lágrimas, cheiro de cócegas, do tipo que exploram o corpo e a capacidade de sentir.

Estufada por meu interior, achei que sofresse. (Auto)Homicídio sem qualquer tendência suicida ou masoquista. Assistira de longe, completamente alheia, mas com as mãos sujas, à tentativa de me matar sufocada.

Não sabia que o aperto era o claustro do incontrolável. Prestes a explodir, senti - única coisa que estava apta a fazer - que, repleta como estava, ficara vazia de sanidade. Esvaiu-se o raciocínio, talvez por perceber que já não havia mais lugar para si. Despencou o medo. Ou talvez tenha crescido - não sei bem ao certo. A ousadia e a indecisão, numa amálgama doce de fel, se aliavam por discordar.

Enjoada, sentiria vergonha de mim se fosse capaz de emitir juízo sobre qualquer coisa. Ser abobalhadamente ululante, perdido em si mesmo.

Sentimento que me preencheu a ponto de inundar meus sentidos de éter. Molhou minha face, meus seios e meus lábios numa tentativa cruel de me deixar completamente vulnerável. Deixou minha boca flácida para estampar na minha cara um sorriso idiota constante.

Me deixei guiar - ou fui forçada a ir - por algo que, de mim, se fez maior que eu. Precisava, então, dividir-me em alguém. Mas eu já o tinha feito, só não havia percebido. Fui, sem pedir licença ou permissão. Nem para mim mesma.


(Escrito em 16 de julho de 2010. Tinha esquecido completamente deste texto, encontrei por acaso).

sábado, 11 de setembro de 2010

Maracujá.

Tem gente que é deliciosa.
 
Inunda, de saliva, a língua.
Repleta de ousadia, mingua, por mistério e por sabor, o prazer do jantar.
Ludibria, se faz desejar, tem o cheiro forte do que azedou por ser provado com os dedos.
Esborra. Extrapola as bordas do copo e do são.

Estremece, de segredos, os dentes.
Adorna, é minúcia; no ventre, é volúpia, e nem precisa de sal.
Escorrega entre panos e curvas. Acalma, jorrando risadas freneticamente silenciosas.
Esguia, se esquiva e escorre pelo canto dos lábios.

Tem gente que é deliciosa.

Que se come no chão, antes de a mesa estar posta.
Que espera disposta, de quatro, sem prato, transborda o tato que cabe no paladar.
Que se faz guardar pro final, visando a morar, ainda que insaciada, na boca.

Faz do lençol guardanapo.

domingo, 8 de agosto de 2010

De silêncio e giz.

A falta de vontade de escrever é pura falta de vontade - egoísta - de compartilhar. Ou puro receio de sedimentar os pensamentos em palavras. Ou puro tédio em repetir, agora em voz alta, o que já disse, incansavelmente, a mim mesma.

Não entendo como não canso de me dizer sempre as mesmas coisas. Esse monólogo de mim, por mim, para mim e para ninguém, não se finda, apesar do fracasso. Não cala.

Nem sai.

Curiosa, enfim, lamento. /mas continuo a escutar-me/ Me decepciono a cada não-descoberta do novo; a cada incapacidade em sentir as mudanças nos dizeres que não são nada além de ecos.

Soam diferentes a cada ouvir. Mas, irritantemente, não têm nada a acrescentar. Farsa calculada. Falsa. Fria. Ria. Ia. Ah, num tentar ludibriar cínico, sonso, tonto, conseguem enganar a quem se contenta em ouvir versões. Ou refrões. Tanto faz.

Por que não se calam? A vontade de falar, de permanecerem vivos, ainda que mortos, os faz mais intensos? Essa falsa conversa substitui mesmo o incômodo do silêncio?

(A espera muda pela faísca dói, machuca, mas de prazer -  não se sabe. Pela ansiedade gostosa de esperar).

O eco é só a reprodução infantil do que há por dentro no momento em que se diz.

Nada.

domingo, 1 de agosto de 2010

Entre dós e sols menores.

Nunca a solidão esteve tão acompanhada. Hiato atenuado por lembrança e desejo num presente inerte, inebriado de passado e de futuro. Angustiadamente vazia e repleta no estar só.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Calei.

Sem graça, gostaria de alertar para o fato de vários eu-líricos terem voz em mim. Nem sempre concordamos e, às vezes, é melhor os calar.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pra quem sabe o que.

É deixar fluir, arrasar, encantar
É tentar esconder, apagar, esquecer
É conter, segurar, adoçar, sem sofrer
É deixar transparecer sem querer.