A falta de vontade de escrever é pura falta de vontade - egoísta - de compartilhar. Ou puro receio de sedimentar os pensamentos em palavras. Ou puro tédio em repetir, agora em voz alta, o que já disse, incansavelmente, a mim mesma.
Não entendo como não canso de me dizer sempre as mesmas coisas. Esse monólogo de mim, por mim, para mim e para ninguém, não se finda, apesar do fracasso. Não cala.
Nem sai.
Curiosa, enfim, lamento. /mas continuo a escutar-me/ Me decepciono a cada não-descoberta do novo; a cada incapacidade em sentir as mudanças nos dizeres que não são nada além de ecos.
Soam diferentes a cada ouvir. Mas, irritantemente, não têm nada a acrescentar. Farsa calculada. Falsa. Fria. Ria. Ia. Ah, num tentar ludibriar cínico, sonso, tonto, conseguem enganar a quem se contenta em ouvir versões. Ou refrões. Tanto faz.
Por que não se calam? A vontade de falar, de permanecerem vivos, ainda que mortos, os faz mais intensos? Essa falsa conversa substitui mesmo o incômodo do silêncio?
(A espera muda pela faísca dói, machuca, mas de prazer - não se sabe. Pela ansiedade gostosa de esperar).
O eco é só a reprodução infantil do que há por dentro no momento em que se diz.
Nada.
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