Por ignorância, passei muito tempo defendendo sozinha a sabedoria que existe no sentimento. Tentando explicar a necessidade de incorporar o sentir ao pensar. Refutando toda poesia imaculada, toda filosofia pura.
Hoje cedo, descobri Nietzsche (e é possível que descubra Foucault em breve) em Além do bem e do mal. Logo no primeiro capítulo (Preconceito dos Filósofos), me deparei com uma inquietação tão parecida com a minha, de negação de toda a busca incansável pela verdade, pela razão pura. A aceitação do erro, da ignorância e da incerteza como condição de vida. Uma valorização linda ao que é de instinto, de sentimento, de natureza, sem os quais é inconcebível a construção de pensamento possível.
“É preciso colocar a maior parte do pensar consciente entre as funções do instinto” // “Admito também que existam puritanos fanáticos da consciência, os quais prefeririam um certo nada a um incerto qualquer coisa” // “Consideravam como maior triunfo tornarem-se donos dos sentidos, enredando seu turbilhão em pálidos, frios e cinzentos conceitos”.
Ao ler esses trechos, lembrei-me de um texto que havia escrito tempos atrás sobre sentir. E sobre como é absurda toda racionalidade livre de corpo. Toda essa filosofia que se baseia na necessidade de buscar verdades em algum lugar livre de desejo. Por que, no fim das contas, nos pergunta Nietzsche: de onde tiramos o conceito de pensar (que pressupõe que nos conhecemos tão profundamente a ponto de sabermos que tal pensar não é querer ou talvez sentir)? O que quer dizer claro? O que quer dizer esclarecido?