O dia não amanheceu. O sol, apesar de transitar, sem pressa, sobre sua rota de costume, não teve força o bastante para dispersar a neblina. Sem nuances quaisquer de cor, ou sem luz que bastasse ao despertar, a madrugada se fez estender.
despertadores não tiveram razão para soar.
preguiçosas, cortinas continuaram a cobrir as janelas.
Pálido, sombrio, - talvez até fúnebre -, o céu, que não se via, permaneceu encoberto. Nuvens amorfas, sem brilho e sem mistério, pairavam imóveis e encardidas sobre a cidade. Os lampejos fortes mas fugazes de luz amedrontavam antes mesmo de se saber que precediam estrondos.
As pessoas, cobertas pelo frio, não insinuavam pele ou curva sequer. Nem dedos do pé. Ou dentes. Ou orelhas. Mantinham os lábios e os passos cerrados e o concreto, por suas imperfeições, acomodava poças das quais se fazia acrobacias para desviar. A água, ao cair sob a forma de tempestade, castiga como farpas impiedosas que se lançam kamikazes ao chão. Ao invés de límpida, se acumula turva, lamacenta; deixa o asfalto ainda mais escuro que o normal.
calotas hasteadas repousam sobre as cabeças escondendo frontes;
permitem que a chuva caia apenas em redor do corpo
ao escorrer seguramente sobre a superfície impermeável de poliéster.
o carro prata, cujos vidros fumê não permitiam a entrada de respingos, ao passo que não deixavam o ar condicionado gelado escapar, não cogitou ter a velocidade intimidada pela pista escorregadia. encharcou num banho fétido os que estavam prostrados na calçada